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quinta-feira, 24 de maio de 2018

ENTREGUE COMO PROMETIDO...

★★★★★★★☆☆☆
Título: Os Vingadores: Guerra Infinita (Avengers: Infinity War)
Ano: 2018
Gênero: Ação, Comédia
Classificação: 12 anos
Direção: Anthony Russo, Joe Russo
Elenco: Chris Hemsworth, Robert Downey Jr., Scarlett Johanson, Chris Pratt, Josh Brolin, Chris Evans
País: Estados Unidos
Duração: 149 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
Para colocar o seu plano em prática, Thanos agora segue atrás das Pedras do Infinito e daqueles que as protegem.

O QUE TENHO A DIZER...
Quando era criança eu preferia Flashman a Changeman, dois seriados japoneses do estilo Tokusatsu, febres nos anos 90. Ambos eram parecidos, similares nos 5 personagens que usavam macacões coloridos e capacete.

Mas minha preferência era baseada em uma única situação: os Flashman são derrotados.

No 15º episódio o monstro Zas Konder não apenas dá uma bela surra no grupo como deixa em migalhas o robô gigante do Comando Estelar, simbolo do poder e força da equipe. A derrota feriu o orgulho do grupo, e deprimidos pela tragédia, chegaram até a questionar valores heroicos.

Essa fase dos Flashman, que durou alguns episódios, é a minha preferida, e a definição daquilo que me faz apreciá-los mais do que qualquer outra série Super Sentai que existiu, não porque eles perderam, mas porque era uma novidade, uma quebra do enjoativo padrão narrativo de que nenhum herói é passível de derrota.

Essa é uma razão para eu também achar a série animada dos X-Men, de 1992, um dos melhores desenhos animados do gênero, pois também nunca escondeu as fraquezas e derrotas de seus heróis.

Logo, não é à toa que Guerra Infinita pode até ser o filme "menos Vingadores" dos Vingadores, mas sem dúvida é o mais respeitável deles se partirmos por esse ponto de vista trágico do qual todos sempre foram poupados até então.

Isso pode soar como um grande spoiler, mas nessa altura do campeonato não tem uma pessoa no mundo que não saiba do que o filme se trata, ao menos para aqueles que acompanharam o mínimo possível do Universo Marvel no cinema por esses 10 anos, ou conheça o básico da Marvel nos quadrinhos.

Claro que Guerra Infinita alimentou os mais profundos medos dos fãs ao longo de toda essa década de cultivo, principalmente sobre qual herói iria ou não ser afetado por este evento que, mais do que físico, também é moral.

A derrota de qualquer herói pode muitas vezes ser sentida como a perda de alguém próximo e que temos confiança, como foi com o emocionante final de Logan (2017). Pode parecer comédia, como quando Superman morre em A Origem da Justiça (2016). Pode também levar à revolta, como quando Charles Xavier é simplesmente desintegrado por Fênix logo na fabulosa sequência inicial de X-Men - O Confronto Final (2006), uma das poucas coisas que tenham funcionado nesse filme, diga-se de passagem, mesmo que não muito apreciado.

Derrotar, matar, ou até mesmo maquinar um genocídio quase apocalíptico entre heróis é sempre um movimento tenso no tabuleiro de xadrez da cultura pop, mas o que Guerra Inifita propõe não é mostrar a fraqueza de seus personagens, mas torná-los mais fortes depois disso. É isso o que a história quer nos passar.

Agora, a intenção real é chegar ao tão aguardado fim de um ciclo que a Marvel inaugurou no cinema em 2008 e dar início a outro, para uma nova geração. Assim as eras são renovadas tal como também acontece nos quadrinhos.

Este terceiro filme oferece tudo aquilo que todo mundo esperou, menos uma grande reunião de heróis, no sentido de grupo e unidade, com o título nos faz compreender. Para quem esperava um grande trabalho em equipe, organizado e sincronizado tal qual é visto na sequência inicial e final de A Era de Ultron, ficará um tanto decepcionado porque temos basicamente três filmes distintos em um só. Tem o filme Capitão América Visita Wakanda, o filme Homem de Ferro no Planeta Inóspito e Thor Perdido no Espaço. Fica livre ao espectador escolher ir para o banheiro no meio daquele que menos lhe interessar. E esse excesso é sentido nas quase duas horas e meia de filme.

Brincadeiras à parte, essa distinção de cenários novamente tem duas razões. Na razão lógica, seria muito confuso enfiar tantos personagens em um mesmo cenário. No primeiro e segundo filmes até funcionou, mas agora o número de heróis duplicou, seria muita informação de uma vez só, o que foi evitado. Na razão narrativa, isso tudo é consequência da grande catástrofe separatista que ocorreu em Capitão América - Guerra Civil, também conhecido como a sequência não oficial d'Os Vingadores

É nessas horas que percebemos como todo o universo cinematográfico da Marvel foi muito bem planejado, e como o desenvolvimento das histórias de todos seus filmes apresentam uma progressão convincente. Aqui a premissa deixada pelo último filme do Capitão é mantida, dando a constante sensação do impacto que a dissolução do grupo trouxe na dinâmica de heróis que não conseguem mais dialogar a partir do momento que a diferença de ideais falou mais alto do que o bem comum. Ao mesmo tempo, esses mesmo heróis não conseguem encontrar identidade com outros grupos ou indivíduos, como acontece quando Thor se depara com os Guardiões, ou quando Tony Stark se encontra com Doutor Estranho. Situações inconvenientes onde todos querem falar a mesma coisa, mas nunca usam a mesma língua.

Enquanto isso Thanos se aproveita dessas brechas para traçar seu ambicioso plano de manutenção do Universo (e não de destruição, segundo ele) que, apesar dos pesares, tem um certo sentido dentro da realidade distorcida do personagem, mas que o roteiro não consegue desenvolver ao ponto dele se transformar em um vilão mal compreendido, ou em um vilão em conflito, aquele tipo que até tem uma atitude nobre, mas extremista ao ponto do inaceitável. Por mais que o roteiro tente criar momentos de empatia com o vilão para desenvolver esse seu lado mais emocional, como na sua relação com Gamorra, a intenção falha, e sempre voltamos a odiar Thanos porque temos que odiá-lo e nada mais.

Sem dúvida que levar a crueldade de Thanos e sua impiedosa personalidade para uma franquia familiar foi como andar em corda bamba, e por mais que seja um personagem digital, Josh Brolin conseguiu imprimir uma personalidade nele que não apenas zomba da fraqueza de seus inimigos como também faz questão de demonstrar não sentir um pingo de graça ou empatia com piadinhas fora de hora, o que pode ser levado até como uma metacrítica não só nos dois filmes anteriores dirigidos por Joss Whedon, mas também algo que vinha incomodando muito nos últimos filmes da Marvel.

A escolhas dos irmãos Russo para dirigir Guerra Inifita foi certeira. Eles aboliram tudo aquilo que não funcionou com Joss Whedon, principalmente na velocidade das cenas que era tão rápida ao ponto de não se compreender quem era quem ou o quê. Toda aquela sobriedade e seriedade de Soldado Invernal e Guerra Civil foram bem portadas, ao mesmo tempo que adequaram essa identidade para um público mais abrangente, sem cair na demanda da ação absurda e escapista que Taika Waititi fez em Thor: Ragnarok, e que de fato preocupou muita gente. Até porque seria muito personagem piadista em um único elenco. Já tem o Tony Stark de Robert Downey Jr. que definitivamente é um excesso por si só, seguido do novo Homem Aranha de Tom Holland em uma hiperatividade juvenil irritante. Tem o sempre bem humorado e motivado guardião Peter Quill, além do mais novo "mestre" do improviso e da piada pronta chamado Thor e, por último, Bruce Banner, que a cada novo filme se torna mais patético. Ou seja, tinha tudo pra dar errado se não tivessem sido bem dosados pelos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, os mesmos de Guerra Civil também.

Tem os momentos absurdos de sempre, como Thor falar no espaço, Tony Stark sobreviver depois de Thanos literalmente arremessar uma lua em cima dele, ou o campo de força de Wakanda suportar um impacto meteórico de uma nave, mas não conseguir resistir uma horda de extraterrestres. Absurdos esquecíveis, mas que a gente não deveria ser obrigado a ver em um projeto que ficou por 10 anos em uma encubadora, custou mais de US$350 milhões e já arrecadou quase US$2 bilhões no mundo com um mês de exibição.

Por mais que seja tudo aquilo que os fãs respeitosamente podem esperar, Guerra Infinita está longe de ser perfeito ou tão bom e empolgante quanto o primeiro da série, mas depois de Pantera Negra, é mais uma prova de que a Marvel, como toda boa indústria, se adequa aos tempos modernos, e resgatar certa sobriedade se mostrava uma necessidade.

Sem contar que ainda é apenas o penúltimo capítulo do fim de uma era. A princípio era para ser um filme dividido em duas partes, mas por razões inexplicáveis decidiram transformar a saga definitivamente em uma tetralogia. Não que essa mudança muda consideravelmente alguma coisa além de que novos conceitos poderão ser apresentados. E se você assistir assim como eu, que por momentos acreditou que o que tudo que acontecia poderia ser uma pegadinha do Loki, ficará mais surpreso ainda ao descobrir que, não... não é.

E, sim, se você leu em vários lugares que Guerra Infinita é um episódio de mudanças drásticas no Universo Cinematográfico da Marvel, acredite nisso. É um mistério, uma dúvida e uma incógnita até agradável o que virá depois dele.

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