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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

ALIEN NUNCA MAIS VOLTARÁ A SER ALIEN...

★★★★☆
Título: Alien: Covenant
Ano: 2017
Gênero: Ação, Horror
Classificação: 14 anos
Direção: Ridley Scott
Elenco: Michael Fassbender, Katherine Waterston, Billy Crudup, Danny McBride, Demian Bechir
País: Estados Unidos, Reino Unido
Duração: 122 min.

SOBRE O QUE É O FILME?
11 anos depois da expedição Prometheus, a nave colonizadora Covenant está com destino ao planeta Origae-6. Mas um acidente no percurso faz a tripulação optar por investigar um sinal recebido em um planeta habitável que está muito mais próximo, e que poderia oferecer as mesmas condições de vida.

O QUE TENHO A DIZER...
Se existe uma coisa que Ridley Scott nunca deveria ter feito é revivido a franquia Alien. Tudo bem que podemos concordar que os louros se iniciaram com ele, no primeiro filme de 1979; depois foram firmados com a sequência de James Cameron, em 1986; entre gostos e desgostos mantido por David Fincher em 1992; e uma tentativa fracassada de um reboot/continuação de Jean Pierre Jeunet em 1997. Diretores distintos que imprimiram, cada um à sua forma, características únicas em seus filmes, gerando preferências variadas. E poderia ter parado por aí.

O projeto de darem continuidade à série depois do filme de Jeunet havia quase morrido, e a idéia retornou no começo de 2000. Avançando no tempo, quando os boatos de Scott retornar com a franquia pipocaram pela rede em meados de 2010, os fãs entraram em polvorosa acreditando que seria a volta do horror espacial de maneira triunfal, afinal, foi o próprio Scott que o criou com tanta efetividade. O diretor então veio com uma historinha pra lá de esquisita, dizendo que no decorrer da produção os rumos do filme mudaram, e ele não seria mais nenhum tipo de continuação ou pré-continuação, mas uma história particular que se passaria no mesmo universo de Alien. A idéia parecia interessante, e o primeiro trailer forneceu a mesma ficção científica aterrorizante que a série Alien sempre soube usar tão bem.

O problema é que fomos enganados desde o princípio. Além de um roteiro cheio de personagens inúteis, buracos e falhas ditadas pela reciclagem mal feita de mitos e lendas espalhadas pelo mundo em diferentes culturas ocidentais e orientais, Scott tentou transformar uma história simples da ficção em algo desnecessariamente complexo e existencialista demais ao ponto da mais pura mediocridade.

Ele tentou, com muito esforço e sem sucesso, criar um novo clássico, mas nunca conseguiu, sequer, sair da sombra de si mesmo. E no fim, Prometheus é, na realidade, assim como sempre foi desde o princípio, uma pré-continuação tão inferior ao ponto de ser esquecível. E embora tenha arrecadado o suficiente no mundo para garantir uma continuação, a verdade é que ele foi um fiasco no Estados Unidos, e a crítica especializada e leiga simplesmente o massacrou sem medo algum. E com exceção dos fãs extremistas e sem senso crítico, o resultado geral foi igualmente um desastre na opinião pública.

E Prometheus ser esquecido é o que Scott também tenta. Correr para resgatar a marca "Alien" neste novo título pareceu providencial para o processo. Claro que há algumas referências aqui e ali do filme anterior, e o roteiro nos faz lembrar a todo instante que, sim, existiu um filme pior antes dele. E só por isso o longa já se torna intragável por si só.

A intenção de Scott aqui é consertar seus erros. Enfiou o título novamente em seu devido lugar para que as pessoas associassem de fato que, dessa vez, é uma pré-continuação, e não uma enganação, e na história em si ele avançou no tempo para não ter que dar mais vida à personagem Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), reprovada pelos fãs e de uma boçalidade sem tamanho no universo dos bichões cabeçudos.

Agora ele tenta contar a história que, desde o princípio, Sigourney Weaver sempre quis que acontecesse enquanto sua personagem ainda existia: visitarem o planeta de origem da espécie. A pena é que não temos mais Weaver e nem Tenente Riplay, mas uma personagem tão chata e igualmente dispensável quando Dra. Shaw. A malquista da vez é Katherine Waterston, no papel de Daniels, que já começa o filme em crise, chorando muitas pitangas porque seu marido morreu durante uma falha na capsula de hibernação, que ao invés de liberá-lo, o incinerou. Um personagem que, para a história tanto do filme, quanto da franquia, não faz o menor sentido além de criar conflitos e mal estares de maneira ágil logo no princípio do filme, aumentando a tensão entre os personagens e os isolando, tudo aquilo que os bichões adoram pra fazer a festa da carnificina.

Daniels nada mais é que uma reprise de Ripley, ou uma tentativa fajuta disso. A masculinização de Ripley ao longo da série, com seu ápice nos episódios dois e três, aconteceu por motivos que tem coerência com o mundo e os diferentes tempos que a personagem viveu, uma jornada maravilhosamente analisada por Eliane Brum em sua coluna no jornal El País. Aqui essa masculinização é deliberada, sem qualquer coerência além de lembrar ao espectador que, para ser uma heroína, é necessário se comportar como um homem, e parecer um homem, mas lembrar a todo instante que ainda é uma mulher porque está sempre com a cara inchada de tanto chorar.

Também criaram uma nova forma de inoculação, através de esporos que penetram pelos orifícios dos humanos e alguns minutos depois já temos um Alien bebê crocante e novinho em folha saindo pelas costas de seu hospedeiro, igualzinho em Manitou, O Espírito do Mal, de 1978.

Já não bastasse as diversas formas deles se reproduzirem, ainda inventaram mais essa, porque a franquia precisa se renovar, os perigos e obstáculos também, e é necessário criar um novo produto que possa oferecer medo ao espectador, o que falha de maneira abundante aqui.

Não é convincente, e foge completamente da proposta de HR Giger quando este criou o conceito do xenomorfo, que era unicamente despertar os medos natos do ser humano. Com tantas referências fálicas, da cabeça à cauda do animal; o medo pela penetração forçada; da violação e do estupro, os alienígenas criados pelo artista plástico despertaram o senso de medo mais profundo e erótico de seus espectadores.

Mas a incansável exploração de suas imagens, além da gradual substituição dos efeitos práticos pelos digitais ao longo da franquia, tiraram deles esse poder de ebulir o mais assustador sentimento de cada um. E isso é sentido a todo instante em Covenant, que até oferece uma boa sensação de isolamento em meio à ambientação obscura, fria e claustrofóbica em alguns momentos e que são, em essência, marcas registradas da série, mas estão longe de ter a mesma efetividade porque Scott aposta novamente mais nos exageros do que na técnica e na simplificação.

Cheio de conflitos internos sem sentido entre os personagens, discordâncias irrelevantes e uma total falta de interação entre eles, fica difícil acreditar que a tripulação escolhida teve treinamento suficiente para sobreviver a situações adversas, resultando em mortes estúpidas, como a de Karine (Carmen Ejogo) e Maggie (Amy Seimetz), que obviamente acontece justamente para ter uma razão específica para todo o grupo ser obrigado a permanecer no planeta e viver em uma constante dúvida de personalidade entre David e Walter, ambos interpretados por Michal Fassbender.

Mas no geral, o que o filme mais peca é a necessidade que Scott de repente sentiu de que, para dar continuação à franquia, seria necessário justificar a natureza dos aliens. É fato no cinema que todo vilão, inimigo ou antagonista cuja história pregressa, ou origem nunca contada, se torna um desastre quando é feito. A curiosidade do espectador em saber existe, mas ao mesmo tempo a liberdade que é dada a eles de imaginar é muito mais consistente, sendo isso que faz aquele personagem, aquela lenda ou mito, ou aquele medo sobreviver. Contar a origem de um mal é como retirar dele todo o mal que existe, e da mesma forma foi o que Scott fez ao tentar contar a origem de um dos seres mais assustadores que o cinema já criou. O significado do medo, criado pelo próprio diretor no primeiro filme, foi simplesmente destruído por ele mesmo neste último porque foi retirado dos espectadores o direito de escolha que a franquia sempre permitiu.

Acredito que, em sua fundação, a explicação que o roteiro desenvolve até chega a ser interessante em certo ponto ao concluir que, no fim de tudo, o maior medo dos homens foi criação dele mesmo. Mas esse arco criado em cima da metáfora do homem brincando de deus foi tão largamente explorado na ficção científica, e igualmente explorado na franquia em Prometheus e no seu massacre filosófico-existencialista que se tornou algo redundante e sem qualquer impacto nesta sequência.

Covenant não foge do processo de ser apenas mais uma tentativa de Scott tentar sustentar uma fama e uma franquia que não possuem mais o mesmo peso de antigamente.

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